Mendonça Saraiva aos  Affonso D' Albuquerque

 

"A conexão dos Affonso de Albuquerque da Muribeca ao último Rabino de Castela

Don Abraham Sênior"

 

Uma dedicatória na famosa obra intitulada El Conciliador, escrita pelo erudito Rabino Manesseh Ben Israel da comunidade portuguesa de Amsterdam em 1632, fez a Duarte Mendonça Saraiva - o David Sênior Coronel, doador do prédio na antiga rua dos judeus (Jodesnstraat), para acomodar a primeira Sinagoga das Américas, foi uma forma de honrar essa fênix da história judaico portuguesa.

[...] Nobilissimos y magnificos senores,  El senor DAVID// SÉNIOR Coronel;// [...]

[...] y más Senores de nuestra nacion, habitantes en el Recife de Phernambvco, Salud.[...] P. 166-167:

  O David Sênior Coronel foi tio do velho Gaspar de Mendonça, Senhor do Engenho Apipúcos no Recife. 
 

Em princípios do século XVII a família Mendonça Saraiva, já se encontrava bem estabelecida na então próspera Capitania de Pernambuco,
participando ativamente da lucrativa industria açucareira.

Não é novidade que os Engenhos, os laboratórios de criação do ouro branco, como era chamado o açúcar na Europa, estivessem quase em sua totalidade nas mãos de senhores de Engenho de origem judaica. Só para si ter uma idéia, a Família Mendonça detinham grande parte deles.

Porém  foi durante a presença holandesa em Pernambuco que os cristãos-novos e judeus retornados a sua fé livremente em Amsterdam, puderam dominar por completo essa atividade lucrativa, não só no refino e distribuição, onde já eram senhores absolutos, mas também nas fontes primárias da produção.

No mapa ao lado temos os períodos da presença judaica em Pernambuco e sua procedência entre os 120 anos iniciais da colonização de Pernambuco.

Salvaterra de Miño é um concelho da Província de Pontevedra na Galícia - Espanha

O pai de D. Francisco Coronel foi D. Iñigo Lopez Coronel, O 2ª no nome, batizado em 1490, antes dos grande édito de Expulsão dos Judeus e Mouros em que ocorreria no ano de 1492 em Castela e Aragão. Era Filho, por sua vez de Sholomô ben Abraham que adotou o nome de pia(²) de D. Juan Pérez Coronel, e que foi casado com D. Maria de Castro de Leão, de uma importante família judaica espanhola.

E por fim, Don Juan Pérez Coronel, o Sholomo Ben Abraham, antes da conversão forçada na Espanha, foi filho do grande Rabino de Castelo, Don Abraham Sênior, tido como último Exilárca.

Cidade de Segóvia - Espanha (acima) e Valladolid - Espanha (à direita)

Dom Abraham Sênior nasceu em Segóvia no ano de 1412, e foi figura famosa de sua época, atuando diretamente junto a corte de castela. Mas sua estima nas mais altas camadas não o poupou de ser forçada a conversão em 1492 me

Kahal Zur Israel - Primeira Sinagoga das Américas - Recife - PE

O senhor do Engenho Apipucos, Gaspar de Mendonça, como grande parte da família, permanece na condição de crípto-judeu, onde poderia dispor de uma vida "menos perigosa". Mas a coragem e audácia de seu tio, Duarte Mendonça Saraiva, que saiu de Amarante em Portugal para viver nos Países Baixos, onde voltou abertamente ao Judaísmo.

Anos depois, Já no Recife holandês, reencontra com seus parentes em Pernambuco, já como estimado membro da Comunidade Judaica hispano-portuguesa no Recife, e grande proprietário dos Engenhos: Velho do Beberibe, Bom Jesus do Cabo, São João do Salgado, Novo do Cabo, C

                                                                                              
 

                Fontes:

J. V. Borges da Fonseca - Nobiliarchia Pernambucana

Luís de Bivar Guerra - Investigação encomendada pela Madame Ethel Krenz Senior, nos documentos portugueses - Declaração emitida por pelo genealogista J. L Bivar Pimentel Guerra z"l.

José Gonçalves Salvador - Cristão-novos.

Marcos Antonio Filgueira - Cristãos-novos na gênese de algumas famílias do Nordeste.
Evaldo Cabral de Mello - Rubro veio: o imaginário da restauração pernambucana.

                             Notas:

(¹)Gente da nação: cristãos-novos e judeus em Pernambuco, 1542-1654 - José Antônio Gonçalves de Mello pag.441 (...) TT. Inquisição de Lisboa, CP 26 fls 376/378 - António Munis da Fonseca, nat. de Évora 53 anos de idade, antigo morador de Pernambuco, em depoimento em Jan de 1650, disse que António de Mendonça Saraiva, senhor de Engenho na Várzea, tinha um Irmão chamado Duarte Saraiva praticante público da lei de Mosés(...)

(²) Nome de Pia: termo usado para os novos alcunhas adotados pelos cristão-novos no ato do batismo ao catoliscismo.

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O senhor de Engenho Gaspar de Mendonça foi casado com a cristã-nova D. Catharina de Cabral, filha de Cristovam Paes D'Altero, senhor do Engenho Sto. António, na várzea do Capibaribe. Nascido em 1543 em Viana Foz de Lima, norte de Portugal, e casado com a olindense D. Ana de Paiva Cabral. Apesar de si declarar perante o visitador do Sto. Ofício, na Bahia, em 20 de Dezembro de 1591, como cristão-velho, sua genealogia o faz filho do Dr. Gomes Paes D'Altero e Violante Pires, o primeiro declaro como cristão-velho, mas com suspeitas de sangue judeu, e a ultima cristã-nova declarada.

Desse matrimônio do senhor do Engenho Apipucos, com sucessão, destacamos Cristóvão de Paes Mendonça, que esteve também na sucessão do Engenho Apipucos. Ele foi casado com D. Isabel Bandeira de Mello, e teve Gaspar de Mendonça Bandeira de Mello, que foi Capital das Freguesias de Santa Luz e Sto. Antão.

E que do seu casamento com D. Clara Azevedo de suposta origem judaica e com sucessão desse casamento em João Paes Mendonça e Castro, casado com sua legítima prima D. Ana Maria de Sousa, filha de irmão natural de seu pai Luiz Sousa Rolim.

Na sucessão desse casamento houve D. Luisa Bandeira de Mello, que foi casada com Gonçalo Xavier Cavalcante de Albuquerque, Senhor do Engenho Pantorra e do Engenho Pindoba, que falece em 1783. Entre os filhos desse casamento está D. Felipa Cavalcanti de Albuquerque casado com Cel. Francisco Xavier Cavalcanti de Albuquerque a quem chamaram "o Suassuna".
Esses foram os avós do Visconde de Suassuna Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, patriarca dos Affonso de Albuquerque da Muribeca.
 

amaçari, Rosário da Torre e o Madalena, este último, vendido ao seu sobrinho João de Mendonça, antes de sua morte que ocorreu em 1650 no Recife, onde foi sepultado.

A Condição de Cripto-Judeu de alguns membros dos Mendonças Saraiva, os fizeram permanecer em Pernambuco, após a reconquista de Pernambuco pela Coroa Portuguesa. Esse foi do senhor do Engenho Apipucos, Gaspar de Mendonça e seu irmão João de Mendonça.

 

Valladolid, onde recebeu o nome de pia de D. Fernando Pérez Coronel.

Monção - vila portuguesa no Distrito de Viana do Castelo, região Norte e sub-região do Minho-Lima

 

O pai de Heitor Coronel foi D. António Coronel, de que o neto foi homônimo, e que serviu em Salvaterra na Galiza, passando em 1588 à Portugal onde viveu em Monção. Sendo casado com a Espanhola D. Isabel Diaz.

D. António Coronel, foi segundo filho de D. Francisco Coronel, nascido em 1483, e que serviu como militar em Flandres, passando a Salvaterra na Galiza onde se casou.

Parte da casa grande e o engenhos Apipucos, séc. XVII, por  Franz Post.

Coleção National Gallery, Dublin. Fonte: Arquivo Público Estadual, Recife, PE

Assim encontramos o senhor do Engenho Apipucos, Gaspar de Mendonça(¹), irmão de João de Mendonça, senhor do Engenho Madalena, ambos filhos de Antônio de Mendonça Saraiva irmão de do mercador e senhor de Engenho Duarte Mendonça Saraiva que assumiria livremente sua condição de judeu, sendo conhecido por David Sênior Coronel.


Os sobrinhos de David Sênior Coronel, eram filhos do seu primeiro irmão, Antônio de Mendonça Saraiva que vivia em Amsterdam em 1612, mas que havia vivido em Pernambuco e lá deixado seus filhos. Era também conhecido por António Coronel, que por sua vez, era filho de Heitor Coronel, nascido em Salvaterra, na Galiza, Espanha,  casado-se em Monção,  Portugal, na família Saraiva de origem cristão-nova.