Os Argonautas

                                                 Albuquerques no Ultramar

 

 

 

 

 

 

"Esta luz é do fogo e das luzentes
Armas com que Albuquerque irá amansando
De Ormuz os Párseos, por seu mal valentes,
Que refusam o jugo honroso e brando.
"

Canto X estrofe 40 de Os Lusíadas -Luiz Vaz de Camões

 

Ao estudarmos a história da Expansão do Império Português pelo mundo, sempre
nos deparamos com alguns Albuquerques.
O Amor dos Albuquerques pela aventura, levou membros dessa família em honra
de El Rey, e a interesses próprios em fincar seu alcunha no cinco
continentes.

O gosto pela a aventura, já era visto no primeiro que adotou o Albuquerque
como alcunha, D. João Afonso Sanches, o sexto senhor Vila de Alburquerque,
em Badajóz na Estremadura espanhola, que passou à Castela, e
lutou ao lado do Rei Afonso XI de Castela em 1338 contra os Mouros em
Granada, e em 1349 em Gibraltar na África. E pela sua lealdade, D. Afonso
XI de Castelo, o fez seu Alferes-mor

"por le fazer honra de alli adelante, eI
Rey liamolo por sus cartas D. Juan Alonso, cá dantes no se líamava assi».
(Mon. Luz., p. 5, L. 17, cap. XXVIII, pág. 233)

O seu filho D. Fernando Afonso de Albuquerque, foi Alcaide-mor de Palmela e
da Guarda em 1373, e até sua morte, representante de D. Pedro I de
Portugal em 1344, que assim o fez Alferes-Mor e embaixador do Mestre de Avis a
Inglaterra, onde negociou o Tratado de Windsor Junto ao Rei Ricardo I.
Em terras Inglesas veio a casar-se com Laura, dama inglesa.

Porém, foi na geração de seu sexto neto, digo de D. João Afonso Sanches, que
surgiram os mais famosos de nosso sobrenome.

Entre os filhos de D. Gonçalo de Albuquerque, 3º senhor de Vila Verde dos
Francos tem lugar um dos maiores argonautas da história marítima portuguesa, D.
Afonso de Albuquerque, o Vice-rei das Índias.

Segundo filho de Gonçalo de Albuquerque, senhor de Vila Verde dos Francos, e
de D. Leonor de Meneses, filha de D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, conde de
Atouguia, foi educado na corte de D. Afonso V.

O Grande Affonço D'Albuquerque

Partiu na esquadra mandada em 1480 em socorro do rei D. Fernando III de
Nápoles, «para reprimir um ataque dos turcos». Esteve na expedição de 1489
para defender a fortaleza da Graciosa, situada na ilha que o rio Luco forma
junto da cidade de Larache em Marrocos. Foi estribeiro-mor do rei D. João
II, a quem em 1476 acompanhou nas guerras com Castela. Esteve assim nas
praças-fortes de Arzila e Larache (Marrocos) em 1489, e em 1490 fez parte da
guarda de D. João II, tendo voltado novamente a Arzila em 1495.

6 de Abril de 1503 partiu para a Índia com o primo Francisco de Albuquerque,
comandando cada um três naus, tendo participado em várias batalhas, erguido
uma fortaleza em Cochim e estabelecido relações comerciais com Coulão.

De regresso ao reino de Portugal, «mais cheio de glórias que de despojos»,
foi bem acolhido por D. Manuel I. O rei voltou a enviá-lo em 1506 ao
Oriente, em companhia de Tristão da Cunha, nomeando-o governador da Índia na
sucessão do vice-rei D. Francisco de Almeida. Neste posto, conquistou e
destruiu vários portos em Omã acabando por chegar à riquíssima cidade de
Ormuz, que se tornou tributária de Portugal. Em 1510 tomou Goa ao turco
Hidalcão e em 1511 conquistou Malaca, abrindo aos portugueses o acesso às
especiarias das ilhas Molucas e ao comércio com a China.

Em Fevereiro de 1513 Albuquerque partiu para o estreito de Bab-el-Mandebe,
tentando tomar Áden no actual Yemen, sem êxito. Com a construção da
fortaleza de Ormuz em 1515, concluiu o seu plano de domínio dos pontos
estratégicos que permitiam o controlo marítimo e o monopólio comercial da
Índia.

Em 1514 em Goa dedicou-se à administração e diplomacia, a concluir a paz com
Calecute, a receber embaixadas de reis indianos e a consolidar e embelezar
Goa, onde, por meio do casamento de portugueses com mulheres indígenas
procurou criar uma raça luso-indiana. O seu prestígio chegara ao auge,
criando as bases do Império Português no Oriente e sendo «Chamado o Grande
pelas heroicas façanhas com que encheu de admiração a Europa e de pasmo e
terror a Ásia».(¹)


 

 

 

 

 

 

"De pé, sobre os paízes conquistados
desce os olhos cansados
de ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte,
tam poderoso que não quere o quanto
póde, que o querer tanto
calcára mais do que o submisso mundo
sob o seu passo fundo.
Trez impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Creou-os como quem desdenha."

Primeira Parte-BRAZÃO
V- O Timbre: A Outra Asa do Grypho
Fernando Pessoa

 

Mas não só a geração de D. Gonçalo de Albuquerque, senhor de Vila Verde dos Francos, legou a Portugal aventureiros e homens de prestígio. Irmão de D. Gonçalo de Albuquerque foi João de Albuquerque, senhor de Esgueira, que foi membro do Conselho de D. Duarte e de D. Afonso V, tendo acompanhado este último monarca em várias expedições ao Norte de África. Como visto no artigo Linha Judaica dos Albuquerques, foi de seu casamento com D. Leonor Lopes Leão, cristão-nova que vem os primeiros Albuquerques em Pernambuco, os irmãos D. Jerônimo de Albuquerque Gomide e D.Brites de Albuquerque, ambos netos de D. Leonor Lopes Leão, sendo a ultima casada com o Capitão e Donatário da Capitania de Nova Lusitânia, Duarte Coelho Pereira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

A geração dos Albuquerques, não muito diferentes de sua estirpe, tiveram o mesmo destino do primo D. Affonso de Albuquerque, Grande Vice Rei das Índias.

Assim podemos encontra D. Jorge de Albuquerque Coelho, filho de Duarte Coelho e D. Brites de Albuquerque, nascido em Olinda no ano de 1539, e levado pelo pai à Portugal, onde concluiu seus estudos e se lançou as aventuras no ultramar.

Em 1578 Jorge de Albuquerque Coelho foi encarregado, no exército do rei D. Sebastião, do comando de uma coluna de cavalaria. Portou-se com valor na batalha de Alcácer-Quibir. Voltando a Capitania de Pernambuco onde morre em início do Século XVII.

Aos seus feitos foi homenageado pelo poeta cristão-novo Bento Teixeira em sua  Prosopopéia  como podemos ler no artigo Prosopopéia de Bento Teixeira.

D. Brites de Albuquerque.

Esposa de Duarte Coelho Pereira, chegou com seu marido a Pernambuco em 9 de Março de 1535. Em várias ocasiões na ausência do marido, ela assumia a chefia da Capitania.

Dona Brites é considerada pelos especialistas como uma das mais ilustres pernambucanas sendo que durante o seu governo, manteve a ordem e a paz da Capitania, combatendo as insurreições indígenas, legislando e controlando os assuntos dos colonos e construindo e urbanizando núcleos como Olinda, onde terá falecido na década de 1580.

 


 

Entre os Filhos de D. Jorge de Albuquerque Coelho, figuraram homens conhecidos da historiografia  luso-brasileira.

Assim podemos encontrar D. Duarte Albuquerque Coelho, homônimo do tio que faleceu no Norte da África, nascido em Lisboa, 22 de Dezembro de 1591 e falecido em  Madrid no ano de 1658.

D. Duarte de Albuquerque Coelho combateu nas lutas pela reconquista da cidade de Salvador aos holandeses. E esteve engajado, ao lado de seu irmão D. Mathias de Albuquerque, na luta pela expulsão holandeses da  Capitania de Pernambuco em 1630.  Em Portugal, depois da Restauração manteve-se fiel a Filipe IV de Espanha, que o fizera marquês de Basto e conde de Pernambuco (1632), regressando a Castela, onde morreu. Como cronista legou a nossa história algumas obras se suma importância para o entendimento da Guerra brasílica, como Las Memórias Diárias de la Guerra del Brasil (1654), uma valiosa obra para o conhecimento das guerras luso-holandesas em Pernambuco, durante o período de 1630-1638.

Não menos heróico foi seu Irmão D. Mathias de Albuquerque, bem conhecido de nossos livros de história.

Nascido em Olinda, c. 1580 e falecido em  Lisboa, 9 de junho de 1647.

Esteve sobre a chefia da Capitania de Pernambuco, quando foi tomada pelos holandeses em 1630. Porém manteve o controle, e através de guerrilhas impediu o controle da WIC, sobre os Engenhos de Açúcar do Interior. Sendo traído por Domingos Fernandes Calabar, a quem sentenciou a morte, perdeu o controle da defesa e retirou-se à  Bahia.

Intimado pelas autoridades  foi deportado para Portugal, e sentenciado pela perda de sua capitania aos holandeses, sendo detido no Castelo de São Jorge.

Libertado com a Restauração de Portugal a Espanha em 1640, foi designado para o Alentejo, onde complementou as defesas da Praça-forte de Olivença, da praça de Elvas e da praça de Campo Maior.

Lembrete

Vale Salientar que não houve geração genealogicamente conhecida dos netos e bisnetos de Duarte Coelho e D. Brites de Albuquerque, nem no Brasil e nem em Portugal, onde morreram sem sucessão os últimos   Albuquerques Coelhos.

D. Duarte de Albuquerque Coelho, o marquês de Bastos, deixou geração em Portugal, porém sem sucessão. O mesmo ocorre com D. Mathias de Albuquerque, com geração nos condes de Alegrete, porém sem sucessão .

Assim, todos os Albuquerques de Pernambuco descendem de D. Jerônimo de Albuquerque Gomide, irmão

D. Jerônimo de Albuquerque Gomide - Patriarca dos Albuquerque de Pernambuco

Não iremos nós detalhar nessa explanação, já que o artigo O Adão Pernambuco, tratamos  mais detalhadamente de tão importante personagem na história colonial brasileira.

Na comitiva que aportou em Igarassú, em 9 de Marços de 1535, além do Donatário Duarte Coelho e sua esposa D. Brites de Albuquerque, e outros colonos, estava o cunhado do donatário, D. Jerônimo de Albuquerque Gomide, homem de grande cabedal e que seria senhor do engenho Nossa Senhora da Ajuda, o primeiro Engenho de  Pernambuco.

O processo de colonização não era nada fácil, pois precisavam desbravar uma terra totalmente inóspita ao europeu, além de enfrentar os verdadeiros donos da terra, os Índios. Sendo num combate em 1547  contra os Tabajaras que o D. Jerônimo de Albuquerque que perde um dos olhos, atingido por uma flecha, recebendo o alcunha de o Torto.

Muitas vezes na ausência de seu cunhado, o donatário Duarte Coelho, administrava a capitania ao lado de sua Irmã D. Brites de Albuquerque.

O Senhor de engenho e fidalgo D. Jerônimo de Albuquerque Gomide, foi patriarca de muitos que tornaram-se elite no Brasil colonial, Imperial e República.

D. Jerônimo de Albuquerque Maranhão

 nascido em Olinda, Pernambuco 1548 e falecido Rio Grande do Norte, 1618, foi um militar e sertanista brasileiro.

Filho de D. Jerônimo de Albuquerque Gomide e da Índia Tabajara Maria M'Uirá Ubi, Jerônimo de Albuquerque Maranhão notabilizou-se nas lutas travadas contra os franceses, na Região Nordeste do Brasil.

Na madrugada de 19 de novembro de 1614, navios franceses fundearam ao largo da praia, e deles saíram cerca de 300 soldados e mais de 2.000 índios. O comandante francês, La Ravardière, intimou os portugueses a se renderem, haja vista a desproporção de forças. Contudo, desprezando a intimação, Jerônimo atacou e, apesar de suas forças serem numericamente inferiores, colheu uma surpreendente e decisiva vitória " (²)

"Oito dias depois, ainda sob a alegria da vitória alcançada, Jerônimo acrescentou ao seu nome o apelido “Maranhão”, conforme consta de sua assinatura, aposta em documento de 27 de novembro"(³)

Bibliografia:

 

(¹) Wikipédia.

(²) A inesperada vitória portuguesa fez com que a história aquela batalha fosse cercada de lendas e passasse a ser referida como "Jornada Milagrosa.

(³) Borges da Fonseca, em sua "Nobiliarquia Pernambucana" ensina que a aposição do topônimo ao nome primitivo de Jerônimo de Albuquerque, foi uma mercê do Rei D. Filipe II, em recompensa à conquista do território maranhense.

 

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Outro Albuquerque Argonauta que não podemos deixar de citar é D. Antônio de Albuquerque Coelho.  Nascido em 1682 na vila de Santa Cruz de Macuttá no Maranhão, filho de do Comendador António de Albuquerque Coelho de Carvalho e penta neto de D. Jerônimo de Albuquerque Gomide.  Em 1717 - 1719, se encontrava na Ásia, onde foi nomeado Governador de Macau na China. Entre os anos de  1722 - 1726, foi Governador do Timor e em  1728 - 1734, Governador de Pate, ilha situada a norte de Mombaça na costa oriental de África e faz hoje parte do Quénia.
 

 

 de D. Brites de Albuquerque e cunhado de Duarte Coelho, como veremos a seguir.

 Ao vencer a batalha do Montijo contra os espanhóis (1644) confirmou os seus méritos de militar (general), sendo recompensado com o título de 1º conde de Alegrete.

Outro Filho de Duarte Coelho Pereira e D. Brites de Albuquerque foi D. Duarte de Albuquerque Coelho, que nasceu em Olinda, e perdeu sua vida na batalha de Alcácer-Quibir no Norte da África em 1580. Algo que veio a amargurar muito D. Jorge de Albuquerque Coelho,  e o fez herdar a Capitania de Pernambuco, por ser o segundo na linha sucessorial.